sexta-feira, 30 de julho de 2010
Como a Internet Mudou Minha Vida (Joelmir Beting )
Compensação
Hoje que queria abrir um álbum de fotografias, onde não houvesse gente de olhos duros e mãos aduncas. Onde umas boas senhoras pousassem no papel com delicadeza, não para sobreviverem eternamente, mas para mandarem seu retrato às amigas com finas letras de “sincera afeição”. Um álbum onde aparecessem uns bons velhotes que não faziam negociatas, que não sabiam multiplicar dinheiro, que usavam roupas desajeitadas, sofriam de reumatismo, liam Virgílio e Horácio, e não tinham medo de fantasmas do porão. De lá de dentro de seus retratos essas senhoras estariam dizendo: “Meus filhos, nada disso vale a pena...” (E saberíamos que falavam de parentes sôfregos, ávidos de partilhas, uns querendo herdar as terras do morro – outros, a mata; outros, a várzea – todos vivendo já do testamento, antes mesmo da extrema-unção...) Hoje eu queria ficar folheando este álbum, onde não desejaria encontrar aqueles herdeiros.
Hoje eu queria ler uns livros que não falam de gente, mas só de bichos, de plantas, de pedras: um livro que me levasse por essas solidões da Natureza, sem vozes humanas, sem discursos, boatos, mentiras, calúnias, falsidades, elogios, celebrações... hoje eu queria apenas ver uma flor abrir-se, desmanchar-se, viver sua existência autêntica, integral, do nascimento à morte, muito breve, sem borboleta nem abelha de permeio. Uma existência total, no seu mistério. (E antes da flor? – Não sei.).
Esta ignorância humana. Este silêncio do universo. A sabedoria. Hoje eu queria estar entre as nuvens, na velocidade das nuvens, na sua fragilidade, na sua docilidade de ser e deixar de ser. Livremente. Sem interesse próprio. Confiante. À mercê da vida. Sem nenhum sonho de durarem um pouco mais, de ficarem no céu até o ano 2000, de terem emprego público, férias, abono de Natal, montepio, prêmio de loteria, discurso à beira do túmulo, nome em placa de rua, busto no jardim... (Ó nuvens prodigiosas, criaturas efêmeras que estais tão alto e não pretendeis nada, e sois capazes de obscurecer o sol e de fazer frutificar a terra, e não tendes vaidade nenhuma nem apego a esses ocasos!) Hoje eu quereria andar lá em cima nas nuvens, com as nuvens, pelas nuvens, para as nuvens...
Hoje eu quereria estar no deserto amarelo, sem beduíno, camelo ou rebanho de cabras: no puro deserto amarelo onde só reina o vento grandioso que leva tudo, que não precisa nem de água, nem de areia, nem de flor, nem de pedra, nem de gente. O vento solitário que vai para longe de mãos vazias.
Hoje eu queria ser esse vento.
(Cecília Meireles, Escolha o seu sonho)
"Bebês mimados tornam-se adultos menos estressados"
"PARIS (AFP) - A afeição maternal transbordante dada aos bebês de alguns meses torna-os mais bem preparados para enfrentar os problemas da vida na idade adulta, segundo um estudo publicado nesta terça-feira no "Jornal de Epidemiologia e Saúde Comunitária", uma revista americana.
Na pesquisa realizada durante vários anos com 482 pessoas no Estado americano de Rhode Island, os cientistas compararam dados sobre a relação dos bebês de 8 meses com sua mãe e seu desempenho emocional, medido por testes, aos 34 anos de idade.
Eles queriam verificar a noção segundo a qual os vínculos afetivos fortes a partir da primeira infância fornecem uma base sólida para se sair bem ante os problemas da vida.
Até então, os estudos sobre o assunto eram baseados em relatos de lembranças da infância, sem um acompanhamento.
A qualidade da interação dos bebês com suas mães aos 8 meses foi avaliada por um psicólogo, que anotou as reações de afeto e atenção da mãe. A classificação - datando dos anos 60 - ia de "negativa" à "excessiva", passando por "calorosas".
Em cerca de um caso em dez, o psicólogo notou um baixo nível de afeto maternal em relação ao bebê. Em 85% dos casos, o nível de afeição era normal, e elevado em 6% dos casos.
Essas pessoas acompanhadas foram testadas, depois, aos 34 anos, sobre uma lista de sintomas reveladores de ansiedade e hostilidade e mal-estar em relação ao mundo.
Qualquer que fosse o meio social, ficou constatado que os que foram objeto de mais carinhos aos 8 meses tinham os níveis de ansiedade, hostilidade e mal-estar mais baixos. A diferença chegava a 7 pontos no item ansiedade em relação aos outros; de mais de 3 pontos para hostilidade e de 5 pontos para o mal-estar.
Curiosamente, não havia diferença entre os que receberam um nível de afeto baixo e o normal. Isso poderia ser explicado, principalmente, segundo os pesquisadores, pela falta de interações verdadeiramente negativas na mostra observada.
Segundo eles, isto confirma que as experiências, mesmo as mais precoces, podem influenciar na vida adulta. As memórias biológicas construídas cedo podem "produzir vulnerabilidades latentes", diz o estudo."
Um outro coração
Um coração de gelo ou de metal?!?
Ou talvez de pedra ou de madeira,
desde que portasse como tal!...
Um coração que à sua maneira
não mais permitisse que eu sofresse
Com a punhalada que me dá a ingratidão!
Um coração que me tirasse dos ouvidos
o pranto dos enfermos em hospital!
Um coração que me tirasse dos sentidos
o pranto das crianças sem os pais!
E que jamais sentisse a Solidão!
E que não sentisse o medo nem a dor!
Um coração que se tornasse indiferente
mata a fome que ceifa tantas vidas!
E que me tornasse auto-suficiente,
com artérias ou veias doloridas!
E que jamais sentisse a falta de amor!
Ah! ainda assim eu seria infeliz!
Somente um coração de fibras musculares
(desses que guardam a virtude e o pecado)
Pode sentir a paz que ainda há nos lares
As esperanças que há no campo semeado!
eu poderei um dia ainda ser feliz...
Quando fizer mais por alguém que ainda chora,
e agradar a Deus o coração que tenho agora!
José Edmar Cisne